domingo, 17 de fevereiro de 2008

FLORES DA GARDUNHA E LITERATURA TRADICIONAL

ALBANO MENDES DE MATOS
Conto - A Monda do Linho

Um dia, em eras passadas, quando ainda se semeava linho, uma mulher, dada a paródias, tinha um campo de linho para mondar. Para o trabalho, pediu a três comadres para a ajudarem. No dia combinado, as três comadres apresentaram-se na casa da comadre, dona do linho, para irem ao trabalho. Conversaram um bocado e a comadre foi buscar um garrafão de vinho, pão e presunto da sua lavra, para merendarem depois da monda.
Conversa puxa conversa, uma das comadres ajudantes, olhando para o vinho e o presunto, com pouca vontade de trabalhar, disse:
- Ó comadre! É melhor nós irmos merendar, primeiro!
- Ná! É melhor irmos já ao trabalho! Porque, depois, da barriga cheia, pouco se faz!
As comadres, que iam ajudar, olharam-se e disseram, à vez, em relação às ervas que enxameavam o linho, porque queriam era comer, não lhes apetecendo arrancar ervas.
Primeira comadre:
- Ó comadre! O corriol vai ao lençol! (Está rasteiro, não faz mal ao linho)
Segunda comadre:
- A margaça dá-lhe graça! (Só chega a meia altura do linho, não faz mal)
Terceira comadre:
- Ó comadre! O pimpilro está erguido! (Está alto, não faz mal)
Assim, convencida a comadre dona do linho a merendarem primeiro, as comadres comeram e beberam e o linho lá ficou por mondar, à espera de melhores dias.
(Narrado por João Salvado Querido, 70 anos, 2001, em Alcaide-Fundão)l


Corriol (Corriola - Convulvulus arvensis L.)

Margaça (Authemis cotula L.)

Pimpilro (Pampilho - Chrisanthemum segetum)


Nenhum comentário: