quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

COGUMELOS NA SERRA DA GARDUNHA

ALCAIDE
Albano Mendes de Matos


Coprinus picaceus

Os cogumelos do Género Coprinus, Família Agaricacea, (C. picaceus, C. micaceus, C. atramentarius, C. comatus, C. sp, C. disseminatus e C. psicatilis), fungos saprófitos, caracterizam-se por o chapéu, quase apenas formado pelas lamelas, se liquefazer depois da esporulação, produzindo um líquido negro semelhante à tinta-da-china. Por isso, tomam a designação de tampa de caneta.
A tinta dos cogumelos Coprinus foi utilizada na I Grande Guerra, pelos Aliados, para escreverem mensagens, cuja autenticidade era reconhecida pelos esporos que a tinta continha, observada a escrita com uma lupa. Para esse efeito, estes cogumelos eram cultivados nas trincheiras

O Coprinus picaceus, quando jovem, é esbranquiçado, passando, depois, a mesclado de preto e de cinzento. Desenvolve-se no Verão até ao fim do Outono, nas pradarias, nas clareiras das matas, nas margens dos caminhos e mesmo nos jardins, em terrenos ricos em azoto.

O Chapéu do Coprinus picaceus, que pode ter de 5 a 10 centímetros de diâmetro, de início tem a forma cilíndrica, passando à forma de sino à medida que envelhece. Em jovem, as lamelas livres são brancas, tomando a cor rosa e depois negra. Tem um ligeiro anel móvel no caule, sendo este branco e longo, de 8 a 20 centímetros.

O Coprinus picaceus é comestível, não devendo ser acompanhado com bebidas alcoólicas. Pode ser cultivado.

Fotos de Albano Mendes de Matos

Cogumelo jovem


Cogumelo jovem sem película/escamas no capéu

Cogumelo jovem aberto a meio


Cogumelo desenvolvido

Cogumelo desenvolvido

Cogumelo desenvolvido

Cogumelos num souto, nas margens de caminho

Chapéu a desagregar-se para se liquefazer

Partes do chapéu já liquefeitas

Chapéu a liquefazer-se



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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O BLOGUE PLANTIFUNGI

Albano Mendes de Matos


O blogue plantifungi tem por finalidade apresentar algumas considerações sobre plantas, espontâneas e cultivadas, e cogumelos silvestres, na Serra da Gardunha, especialmente nas terras da aldeia de Alcaide, nos seguintes aspectos:

- Plantas usadas na farmacopeia tradicional,

- Plantas espontâneas comestíveis,

- Plantas espontâneas com diversas utilidades,

- Cogumelos comestíveis,

- Cogumelos tóxicos,

- Cogumelos venenosos.

Muitos processos da arte de curar doenças e feridas vêm de eras passadas. Algumas práticas curativas, com base nas plantas, foram sancionadas pela Farmacologia e pela Terapêutica modernas.

O Reino Plantae fornece alimentos e proporciona ingredientes para um grande número de remédios. Algumas espécies vegetais têm acção directa sobre certas doenças e outras são procuradas para lhes serem retiradas partículas com utilização na medicina científica, como, por exemplo, a aspirina usada como analgésico, obtida a partir de extracto de salgueiro (Salix L.)

É evidente que há, embora em decadência, uma medicina popular que sabe aplicar as plantas, por conhecimentos transmitidos de geração em geração. A fitoterapia acompanhou o homem, com as flores, as folhas, as raízes, as cascas e os óleos essenciais das plantas, utilizados em xaropes, infusões, cozimentos, vapores e emplastros.

COGUMELOS NA SERRA DA GARDUNHA

Alcaide-Fundão


Cordyceps militaris


Existem cerca de 500 espécies de fungos parasitas de insectos. O Cordyceps militaris é um cogumelo parasita da processionária dos pinheiros (Thaumetopoea pytiocampa). As borboletas, insectos perfeitos, surgem da terra, no Verão, para reprodução, colocando os ovos nas agulhas ou carumas dos pinheiros, envolvendo-as num ninho, como uma espécie de teia de forma oval. Cerca de um mês depois, nascem as lagartas no ninho, onde permanecem, saindo, normalmente, de noite, para se alimentarem comendo as agulhas dos pinheiros. Na Primavera, descem dos pinheiros e caminham em fila, em forma de procissão, de onde lhes vem a designação de processionárias, para se enterrarem no solo e sofrerem a metamorfose. Levam esporos do cogumelo Cordyceps militaris agarrados aos pelos que têm ao longo do corpo, que também se enterram. Os esporos germinam de Setembro a Novembro, na mupa da crisálida da processionária, parasitando-a, na qual se desenvolvem. Também podem germinar sobre as larvas.

O cogumelo Cordyceps militares tem a forma de pequenas hastes, de cor laranja, que podem atingir 5 centímetros de altura.
O Cordyceps militaris não é comestível.



Cordyceps militaris

Cordyceps militaris saindo da pupa da processionária
Cordyceps militaris saindo do solo, com a mupa da processionária enterrada


Ninho da processionária num pinheiro


Duas lagartas processionárias alimentam-se com caruma do pinheiro

Fotos de Albano Mendes de Matos

domingo, 17 de fevereiro de 2008

FLORES DA GARDUNHA E LITERATURA TRADICIONAL

ALBANO MENDES DE MATOS
Conto - A Monda do Linho

Um dia, em eras passadas, quando ainda se semeava linho, uma mulher, dada a paródias, tinha um campo de linho para mondar. Para o trabalho, pediu a três comadres para a ajudarem. No dia combinado, as três comadres apresentaram-se na casa da comadre, dona do linho, para irem ao trabalho. Conversaram um bocado e a comadre foi buscar um garrafão de vinho, pão e presunto da sua lavra, para merendarem depois da monda.
Conversa puxa conversa, uma das comadres ajudantes, olhando para o vinho e o presunto, com pouca vontade de trabalhar, disse:
- Ó comadre! É melhor nós irmos merendar, primeiro!
- Ná! É melhor irmos já ao trabalho! Porque, depois, da barriga cheia, pouco se faz!
As comadres, que iam ajudar, olharam-se e disseram, à vez, em relação às ervas que enxameavam o linho, porque queriam era comer, não lhes apetecendo arrancar ervas.
Primeira comadre:
- Ó comadre! O corriol vai ao lençol! (Está rasteiro, não faz mal ao linho)
Segunda comadre:
- A margaça dá-lhe graça! (Só chega a meia altura do linho, não faz mal)
Terceira comadre:
- Ó comadre! O pimpilro está erguido! (Está alto, não faz mal)
Assim, convencida a comadre dona do linho a merendarem primeiro, as comadres comeram e beberam e o linho lá ficou por mondar, à espera de melhores dias.
(Narrado por João Salvado Querido, 70 anos, 2001, em Alcaide-Fundão)l


Corriol (Corriola - Convulvulus arvensis L.)

Margaça (Authemis cotula L.)

Pimpilro (Pampilho - Chrisanthemum segetum)


COGUMELOS

VOLVARIELLA GLOIOCEPHALA

Volvariella gloiocephala é um cogumelo basidiomycota da familia Pluteaceae do qual existem algumas espécies. O seu nome deve-se à presença de uma volva (do latim volva ou vulva) na base de pé, que é uma membrana que resultou da abertura do ovo, no desen-volvimento do cogumelo. Surge espontaneamente em bosques, em terrenos ricos em humus, em prados e campos cultivados.
Com altura até 20 a 25 cm, o cogumelo apresenta chapéu de forma cónica, quando jovem, e aplanado com uma espécie de mamoa no centro, no final do crescimento, podendo atingir 15 cm de largura; lamelas (himénio) livres, brancas ou rosadas; carne jovem esbranquiçada, aquosa e mole, que se torna rosada com a idade.
É comestível de fraca qualidade.



Cogumelo envelhecido.


Corte no chapéu.


Esquerda, cogumelo envelhecido, centro, cogumelo em desenvolvimento, direita, himénio (lamelas) e pé.


Himénio com lamelas rosadas.


Volva na base do pé.


Cogumelo no seu habitat.


Cogumelo no seu habitat, na base do pé, a volva, o centro do chapéu com forma de mamoa.


Chapéu.


Cogumelo jovem com o chapéu fechado.

Albano Mendes de Matos